sexta-feira, 22 de junho de 2018

Um país que vive a crédito dos seus recursos naturais



O dia 16 de junho tornou-se a data em que se esgotaram os recursos naturais referentes ao ano de 2018 para os portugueses.
Significa isto que Portugal vai começar a viver a crédito, consumindo já o que apenas deveria começar a consumir em 1 de janeiro de 2019.
Se cada pessoa no planeta vivesse como uma pessoa média portuguesa, "a humanidade exigiria o equivalente a 2,19 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos", o que implicaria que "a área produtiva disponível para regenerar recursos e absorver resíduos a nível mundial esgotar-se-ia no dia 16 de junho".
A nossa pegada 'per capita' é de 3,69 hectares globais, mas a nossa biocapacidade é de 1,27 hectares globais, com base em dados revistos para toda a série histórica desde 1961", escreveu a Zero, num comunicado.
Portugal é o 69º país do mundo com maior pegada ecológica por pessoa.
E o que é isto da pegada ecológica? é uma expressão traduzida do inglês ecological footprint e refere-se, à quantidade de terra e água que seria necessária para sustentar as gerações atuais, tendo em conta todos os recursos materiais e energéticos, gastos por uma determinada população.  A pegada ecológica é atualmente usada ao redor do mundo como um indicador de sustentabilidade ambiental. Pode ser usado para medir e gerenciar o uso de recursos através da economia. É comumente usado para explorar a sustentabilidade do estilo de vida de indivíduos, produtos e serviços, organizações, setores industriais, vizinhanças, cidades, regiões e nações. A pegada ecológica de uma população tecnologicamente avançada é, em geral, maior do que a de uma população subdesenvolvida.
O consumo de alimentos (32% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) encontram-se entre as atividades humanas diárias que mais contribuem para a pegada ecológica portuguesa e são "pontos críticos para intervenções de mitigação da pegada".
A data é cada vez mais precoce: em 2005, o homem começava a explorar as reservas do planeta só a partir de setembro. Em 1975, os recursos renovados a cada ano terminavam apenas em novembro. A vertigem do consumo é cada vez maior e a humanidade, vive cada vez mais tempo "a crédito", com a dívida ecológica a crescer e a tomar proporções preocupantes. A desflorestação, escassas reservas de água, poluição e o efeito de estufa são o preço que o Homem já está a pagar pelo consumo desenfreado dos recursos terrestres, num ciclo vicioso que, daqui em diante, só pode piorar caso não sejam tomadas medidas urgentes.
E o que podemos fazer para mudar isso? A ONU criou uma definição do que é o desenvolvimento sustentável, no qual estabelece objetivos que permitiram satisfazer as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazer as suas necessidades.
Nasceram 17 objetivos que podem ajudar a um desenvolvimento sustentável e reduzir a dependência do crédito ecológico:

1-Acabar com a pobreza em todas as suas formas e em todos os lugares.
2-Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e a melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável.
3-Garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
4-Garantir uma educação inclusiva e equitativa de qualidade e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.
5-Alcançar a igualdade de género e capacitar todas as mulheres e raparigas.
6-Garantir a disponibilidade e a gestão sustentável da água e saneamento para todos.
7-Garantir o acesso à energia fiável, sustentável, moderna e a preço acessível para todos.
8-Promover o crescimento económico sustentado, inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos.
9-Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação.
10-Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.
11-Tornar as cidades e os povoamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
12-Garantir padrões de produção e de consumo sustentáveis.
13-Tomar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactes.
14-Conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos, para o desenvolvimento sustentável.
15-Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir as florestas de forma sustentável, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e estancar a perda de biodiversidade.
16-Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas a todos os níveis.
17-Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.
Se todos colaborarmos, certamente os problemas podem ser mitigados.
E não devemos pensar que se o vizinho não faz eu não vou fazer… Vamos pensar nos bons exemplos e replicar, como por exemplo a atitude dos adeptos do Japão que no fim do jogo limparam as bancadas de detritos, e que já fez mudar algumas mentalidades e muitas pessoas já replicaram o seu exemplo.
Um planeta melhor, um Portugal sustentável, depende de um pequeno gesto de cada vez…


Ricardo Joel Santos 

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