terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Fundo de Emergência – Como e porque criar…

 

Fundo de Emergência – Como e porque criar…

 


            Com as sucessivas crises que têm existido em Portugal, com precariedade no trabalho e agora com a pandemia do COVID 19, nunca fez tanto sentido a criação de uma poupança, ter um fundo de emergência para ajudar na quebra de rendimentos, em um problema de saúde, desemprego, divórcio, acidente ou, simplesmente, uma obra inesperada lá em casa.

Para perceber a importância de ter uma poupança para algum imprevisto, pense da seguinte maneira: se ficasse neste momento de baixa ou tiver uma quebra no rendimento familiar, durante quanto tempo conseguiria suportar as suas despesas mensais?

Imaginemos que tem 500 euros de despesas por mês. Se ficar impossibilitado de receber a totalidade da sua remuneração, quantos meses é que consegue sobreviver mantendo a sua forma de viver? Se tiver 1.500 euros de parte sabe que tem uma folga de três meses. Mas se não tiver qualquer poupança as dificuldades serão, muito provavelmente, imediatas.

O fundo de emergência deverá ser o primeiro passo para elaborar a sua poupança. Não devemos avançar para investimentos sem antes termos o fundo de emergência constituído, de forma a termos uma almofada de segurança e de estabilidade.

O montante deve corresponder a um valor que se preveja como razoável para um gasto inesperado ou um tempo sem conseguir auferir rendimentos, como no caso de doença ou desemprego.

Dos diversos estudos que existem todos eles recomendam ter 3-6 meses de despesas mensais nesse fundo. Se assim o entender será necessário ter não só as despesas necessárias, que são as fixas, as prestações de casa e carro, a sua alimentação, as energias, mas as possíveis, reparações inesperadas, festas programadas.

Imaginemos que o seu agregado familiar usufrui de 1300 euros por mês de rendimento, e tem como despesa fixa 900, um bom fundo de emergência será 900 X 6= 5400.

Se conseguirmos poupar 20% do rendimento, então temos que 80% são despesas. Vamos assumir que queremos ter tanto despesas necessárias como desejadas cobertas, então conseguimos atingir o valor de um mês de fundo de emergência com as poupanças de 4 meses (4X20%=80%). Se quisermos atingir os 6 meses de despesas, temos então de contribuir para o fundo durante 6X4 = 24 meses ou seja 2 anos.

Para funcionar como fundo de emergência, esse montante tem que estar disponível com grande rapidez. Não podemos arriscar a que quando se precisa do montante ele não esteja lá ou seja muito demorado levantá-lo.

Investimentos em mercados de capitais (ações, obrigações, fundos mistos) são muito líquidos, mas o valor pode variar substancialmente e não é desejável levantar em determinadas alturas.

Nunca se deve colocar o valor em investimentos ilíquidos, como por exemplo imobiliário ou depósitos a prazo a muitos anos, pois pode ser impossível ou muito penalizador resgatar.

Já os Depósitos à ordem, têm liquidez imediata ou quase imediata e podem cumprir esta função de fundo de emergência, embora com taxas extremamente baixas.

Com o fundo constituído temos uma situação mais estável do ponto de vista financeiro e isso vai permitir ter uma vida um bocadinho mais descansada, após ter essa almofada, podemos então efetuar poupanças, com outro risco e tempo de resgaste mais elevado.

O fundo de emergência só deve ser utilizado para efetivas emergências e após a sua utilização dever-se-á repor o montante estabelecido.

é importante todos os anos, fazer o seu orçamento e as previsões das despesas fixas para assim poder reavaliar o seu fundo de emergência e as suas poupanças.

            Depois de tudo o que disse anteriormente, agora deixo um resumo rápido de como deve efetuar o seu fundo de emergência para como conseguir uma estabilidade financeira e emocional que o vai ajudar a superar as crises e a pandemia de uma forma menos dolorosa.

Em primeiro lugar, contabilize todas as suas despesas: reúna faturas e talões e diferencie as despesas essenciais das supérfluas. Perceba que existem despesas fixas e variáveis, que, naturalmente, influenciam o volume dos seus gastos mensais. Existem ainda outras despesas que são anuais, como é o caso do seguro do carro. Faça uma média ou uma estimativa e, por uma questão de prudência, arredonde as suas despesas por cima.

Em segundo é importante saber quanto ganha. Se vive do seu salário fixo, as contas são mais fáceis de fazer. Se é trabalhador independente, poderá ter rendimentos mais variáveis. Depois de fazer estes cálculos, o objetivo é retirar do seu ordenado ou rendimentos, o valor das despesas e avaliar quanto conseguiria poupar por mês. Experimente considerar a poupança como mais uma despesa, de forma a tornar-se um hábito. Se deixar para o fim do mês, o hábito de pôr dinheiro de parte, corre o risco de não poupar.

Em terceiro, numa conta à parte tente deixar dinheiro suficiente para cobrir seis meses de despesas mensais. Mesmo que só consiga o equivalente a um mês de ordenado, é opimo, mas deve ter em vista sempre atingir a meta de poupança. Abra uma conta com o objetivo específico de poupar. Para não ter tentações, não associe cartões de débito nem de crédito e não faça levantamentos desta conta. Outro ponto relevante é ser disciplinado na poupança: o ideal é dar ordem automática para transferir 5% a 10% do seu rendimento todos os meses. O importante é que comece a poupar, por muito pouco que possa parecer, mais cedo ou mais tarde o objetivo será atingido.

Em quarto, pesquise na internet, fale com o seu gestor de conta, e procure a melhor forma de poupar. Os certificados de aforro têm alguma rendibilidade, mas têm como desvantagem não poderem ser mobilizados de imediato. O que significa que, se tiver uma emergência e precisar desse dinheiro, não pode resgatá-lo. Se já tiver três meses de fundo de emergência, deixa esse valor num depósito a prazo ou conta-ordenado remunerada e, à medida que for poupando mais, vai colocando nos certificados de aforro. Para ajudar, pode fazer uma programação de um valor fixo do seu ordenado para uma conta a sua escolha, isso permite poupar de uma forma que mal da por isso. Fale com o seu banco para saber qual a melhor alternativa para começar já a poupar de forma automática.

O mais importante é criar um método que seja a sua medida, muito ou pouco, demore meio ano ou dois anos a fazer, deve tentar cumprir as suas metas. Aprender a poupar, e criar um fundo de emergência, dá ao agregado familiar uma estabilidade financeira maior e ajuda a um estado mental mais saudável.

 

 

Ricardo Santos

ricardosantos-44826c@adv-est.oa.pt